quinta-feira, 23 de abril de 2009

E ai a máscara


Por um certo período, por motivos “diplomáticos” , me escondi atrás de um personagem que assinava minhas crônicas. O criei feminino e lhe batizei de Abnegada Abgail. Foi sem dúvida uma experiência inusitada e, por que não, deliciosa, encarnar uma suburbana alto astral e seus delírios diários.
Seguem alguns escritos “psicografados” a mim por uma tal Abgail.
Adilson

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A velha e desbotada desculpa


Sempre tive paixão por carros pretos, homens altos, barbas por fazer e camisas pólo. Exatamente isso tudo aí era Jorge. Dentes brancos, peitão peludo, jeito meio grosseiro, aí, não teve jeito, paixão a primeira carona.
Não me lembro da marca do carro, mas me lembro de suas longas mãos indo e vindo no câmbio, uma fala mansa, jeans levemente desbotados e uma bota importada de Barretos que o fazia o meu Clint Eastwood.
Enamoramo-nos, buscava-me na repartição e eu, me atrasava na saída propositalmente pra que toda a peruada de minha seção me vissem entrando com aquele monumento no possante preto motor 8 cilindros, se bem que esse tanto de cilindros nunca fez muita diferença em nossas vidas. Jorge era meigo, carinhoso, divertido, atrapalhado e ainda tocava boleros em seu velho violão, só pra mim, ah ! Perfídia, não precisava de mais, eu não queria mais, adorava o seu jeito estranho e animal de puxar meus cabelos pela nuca e aproximar minha boca da sua, é certo que por vezes doía, mas nessa hora o que sempre importou foi o amor que vínhamos nutrindo um pelo outro.
Me levava a passeios românticos nos pedalinhos do lago, ele fazia uma força descomunal para me agradar, via todo o seu amor no suor que escorria e na vermelhidão do rosto após alguns quilômetros de pedaladas, éramos muito felizes.
Quis, com todo o direito, conhecer meus pais, marcamos pra um domingo, desde o acordar a casa era toda preparada pra ele, mamãe sugeriu colocarmos a mesa no quintal, papai gostou da idéia mas lembrou que Biscoito, nosso cão pequinês , provavelmente não daria sossego à visita, concordamos em ficar quietinhos dentro de casa e Biscoito bem alimentado e feliz do lado de fora pra evitar embaraços. O cardápio foi a parte mais difícil, resolvemos quase de última hora por um refogado de pescoço de peru que mamãe preparava magnificamente e que, provavelmente Jorge nunca teria comido e se esbaldaria.
Foi um sucesso, Jorge levantava papai à centímetros do chão, abraçando-o toda vez que juntos brindavam com uma cachaça mineira que não sei de onde apareceu, com mamãe dançou Altemar Dutra, até que as varizes de plantão de Dona Laíde não mais agüentaram, trouxe o violão e após nos enfartarmos de peru, tocou perfídia e me beijou longamente, me lembro daquele beijo até hoje, tinha o gosto do pudim da sobremesa. As vizinhas vieram conhecê-lo e teciam comentários muito positivos junto à mamãe, foi um sonho aquele domingo inesquecível.
Já se fazia um ano de nossa convivência harmoniosa, quando Jorge começou como que do nada a se afastar, se fazer distante, aparecer menos, e me beijar de forma mais casual, tentei renovar nosso caso, presenteei-lhe, dei tudo o que podia de mim, dei-me por completa, a distância, me parecia aumentar, percebi claramente que era o começo do fim.
Jorge desapareceu por exatos trinta dias, até que recebi no meu portão o carteiro com uma carta que trazia apenas o destinatário, percebi sua letra e a intenção de que ele não queria ser localizado. Tremi, temi, abri, era uma carta sim de despedida, sem uma real explicação de onde eu ou nós havíamos errado, ele estava me deixando, nos deixando e abrindo mão de todo o amor que eu sempre lhe devotei.
Ao final de sua carta, com sua letra rota e trêmula deixou uma breve nota ao pé da página:

__ Minha flor, é com grande e doloroso pesar que aqui termino com nosso sonho, mas acredite só o fiz por você, você merece coisa melhor !!!
Abnegada Abgail

Coroa é a sua avó!


Do que me consta, realmente nada a comemorar, ranzinza eu? Experimente ir perdendo o ar enquanto amarra os sapatos !
Essas datas são pra mim um horror, sempre me lembro que a tendência é só piorar, dizem que se ganha experiência, sim muita, até porque se faz necessário muita experiência para estar sempre fazendo a dieta certa, cuidando do maldito colesterol, e o coração ? Por enquanto vai bem obrigado. Varizes, artroses, reumatismos, gota, osteoporose, menopausa, libido em baixa, Deus ! Afasta de mim essas velinhas, esse maldito bolo e as irritantes línguas de sogra.
Não vou, me recuso a falar das... rugas, esse amontoado de pele sob meus olhos, quero demitir-me de mim, quero minha cara de volta, aquela lisinha, pele de pêssego, devolvam-me os cabelos ainda castanhos sem branquelos intrusos a me fazerem gastar fortunas em “vermelhos intensos acaju”. Comemorar o que ?
É um tal de aumenta isso, diminui aquilo, o corpo vai ficando em forma, forma de barril, não me atrevo a usar mais aquelas sainhas que já arrancaram assobios, não me vejo ouvindo vaias, não sou mais eu, esta não sou mais eu, mesmo que me chamem pelo mesmo nome e, que no maldito CPF esteja lá gravado a minha real identidade.
Não me chamem de senhora, não me dêem lugar no ônibus, não me passem a frente nas filas e não me digam, “___ Tia, você no alto de sua experiência! “...
Comemorar o que ? Ando achando a juventude tão banal, a moda longe do meu bom gosto, a música tão aquém de minhas bossas, a noite tão grande e cansativa, o vizinho um chato barulhento e os sobrinhos um porre, sinais do tempo ou da idade?
Devolvam-me o que já fui, mentira dizer que envelhecer é nobre, uma ova ! Ando tendo paciência pra passar horas com um livro na mão, mas me recuso a mudar de sala no chat da internet. Ando inventando pratos na cozinha, já não me apraz os fast foods. Comprei como por ímpeto uma camisola e meias de lã, por que não mais dormir sensualmente semi despida e com os pés descalços ?
O que há de bom em acordar sempre antes de todos, tratar dos passarinhos e fazer o café ?
O que há de bom em perceber que todos os mais bonitos e sensuais são muito novos pra mim?
O que há de bom em ir a reuniões escolares do ensino médio ? Agora da Faculdade, rsss
Não, nada a comemorar !
Me resta a canção:

Parabéns pra você,
por mais vida perdida,
já passastes da idade,
Se aposenta querida !
Abnegada Abgail

REVOLUÇÃO EM MIM


Em pessoa, a revolução nos observa, pelo espelho, em reflexo, pré eletrograma da alma, assim foi e assim será o início, o meio e o nunca acabar. Bah tchê, ou Guevara a espreita no aprendizado do amor. Amor cubano, e do mundo, Fidel, fiel, cercado de Cienfuegos e paixão. Eu e você no cume da Sierra Maestra, exilados de medo e envoltos pelo caliente amor que vai além do Caribe, vai além das mais possíveis imaginações, fantasia que se realizou e permanece sã, insana, perene, fecunda e infinita, até que dure.

Colaboradores


Confira

Cronicas de Abnegada Abgail
Fotografias do Mundo
Crônicas de dores passíveis
Crônicas de amores possíveis
Artigos da Revista Telas e Artes