quinta-feira, 20 de setembro de 2007

PÁLPEBRAS DISTRAÍDAS E BUNDINHAS LUMINOSAS

Caminhava a ermo entre paragens nunca dantes deparadas, era noite e se fazia outubro, se fazia quente, se fazia lua e eu, me fazia só.
Como que a redescobrir o céu, a lua e as estrelas, me empreitei em, com pés descalços, reafirmar a existência de outros mundos que fossem muito além dos meus concretos diários.
Filhote da neurose urbana, me neguei por muito tempo ao regozijo de observar os pequenos nadas que a simplicidade rural nos oferece. Ouço grilos, me divirto com as luminosas bundinhas luminosas dos vaga-lumes, chuto sapos
( melhor que engoli-los) e me faço crescer regado pelo sereno frio depositado nas folhas onde piso.
___ Preciso ir urgentemente ao analista !
___ O gás já está no fim !
___ Cuidado ao atravessar a rua menino !
___ Antônio foi assaltado, perdeu o emprego e se matou .....
Os grilos continuam seu canto, o tempo é preguiçoso. Olho distraidamente para cima e assim também distraidamente, estrelas como em uma sucessão de pálpebras que se abrem e fecham, se riem de mim, de piedade, lamentando o tempo em que perco nas filas dos pontos de ônibus.

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