sexta-feira, 21 de setembro de 2007

SÍNDROME DE HOMEM ARANHA

Uma de minhas fobias é a altura, tremo só de pensar em estar, por exemplo, em cima de um telhado; sempre deixei as antenas se ajeitarem ao sabor dos ventos. Preciso sentir o solo, o chão bem quietinho sob meus pés, talvez por isso telhados tanto me fascinam.
Quem sabe uma boa terapia não me levaria às alturas? Enfrentar o medo pode ser uma boa opção (teórica), mas realmente não faz parte de meus planos.
O que se vê lá de cima? As cores são diferentes, pode-se tocar as nuvens como em algodões doces, ou só se vê outros telhados ?
Em cima do telhado, além de gatos, caixas d’água e antenas, nada mais se encaixa, principalmente humanos como eu, é certo que vislumbra-se o quintal do vizinho, um pouco da intimidade alheia (hoje tão em moda) ou quem sabe o cume da chaminé da fábrica. Porém essas visões não me atraem, ando até pensando em investir no cometimento de pecados para não ter de ir para o céu (lá é muito alto), ou quem sabe em sua sabedoria, Deus não reserve para mim um paraíso sem escadas, de preferência ao nível do mar.
Segundo alguns músicos, compõe-se melhor em cima de telhados, há silêncio em cima dos telhados, mas tenho comigo que o mundo de lá é o mesmo daqui debaixo, ou quem sabe de lá não se vê a fome, a miséria, a violência ou ainda se tenha a impressão de se estar sempre acima da inflação?
Sei não, prefiro cruzar a todos os momentos no chão, nas esquinas, com os males do mundo, afinal é quase sempre inevitável fugir da realidade, seja lá a que altura estivermos.
Enquanto eu não for eleito o responsável por acender a lua, permaneço aqui embaixo, vendo as horas e contemplando os meus horizontes, que não deixo, por estar no chão, que sejam parcos e limitados, afinal, inda que sob telhados, sonho.

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