quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A PÁTRIA DE CHUTEIRAS


Nas pelejas do dia-a-dia o brasileiro é realmente um grande craque.
Nessa seleção de futebol, o escrete canarinho, não se aproxima em nada das habilidades do cidadão comum, aqueles dos trens lotados, das marmitas mal servidas, da construção civil, do canavial, do comércio, das salas de aula, do lar e de tantas outras áreas em que é preciso muita agilidade para no mínimo conquistar um empate.
Os nossos craques não exibem carros importados, apartamentos de luxo, nem loiras esbeltas, seu principal meio de transporte é aquele que sempre se atrasa e invariavelmente carrega o dobro de sua capacidade, suas casas estão nas periferias e favelas, a longas distâncias dos grandes centros, suas companheiras não são capas de revistas e, na busca da complementação da renda doméstica, afundam-se em transbordantes tanques de roupa (sujas pelos famosos e seus filhos ) ou estão no mercado formal de trabalho.
Em dribles diários, o verdadeiro craque brasileiro também sofre com a concentração, (a de renda na mão de poucos). Constantemente a vida lhes apresenta “cartões” , os amarelos da inflação, corrupção, desnutrição, etc...
E o temido vermelho da demissão, do desemprego, das latas vazias.
O jogo da vida é de um tempo só, não há intervalos nem substituições, não se tem o direito de se contundir, afinal o INSS não é lá esse Departamento Médico, o árbitro é sempre o patrão mal humorado que só vê a sua frente cifras e muito lucro e, é ele na verdade quem sempre tem mais motivos para comemorar os gols.
Os boleiros do cotidiano, são verdadeiros artistas, surpreendem com suas jogadas, dribles e passes, passando com maestria pelo adversário diário, pelas agruras da vida. Estes sim, são merecedores dos elogios do ‘Galvão’ e das glórias delegadas aos nossos craques da bola, merecem, como nenhum outro fazer parte da seleção de verdadeiros heróis do Brasil.
Estes, que como técnico, só têm a consciência ética do cumprimento do seu dever de cidadão, ainda não sentiram o prazer de sentir no peito a medalha de méritos que lhes é devida, pela destreza de a todo dia, vencer uma dura partida.

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